sexta-feira, 3 de julho de 2015

ARTIGO: NA MADRUGADA DE 02 DE JULHO DE 2015 TIVEMOS DUAS VÍTIMAS

Por
Erika Juliana Dmitruk 
Professora do Departamento de Direito Público da UEL


Na madrugada de 02 de julho de 2015 crimes aconteceram na Câmara dos Deputados e deixaram duas vítimas feridas de morte – a frágil Democracia (que está entre vida e morte) e a juventude brasileira (que, mesmo resistindo a duros golpes ,recebe este como mais um para sua pauta de luta).
Neste texto quero falar da primeira vítima, a democracia. Digo que a primeira vítima é a que se encontra em estado mais grave, e se cuidarmos de sua saúde agora, sendo ela recuperada, ainda temos três turnos para discutir com seriedade os assuntos relevantes para o Brasil, entre eles, a PEC 171/93.
A votação de 01 e 02 de julho de 2015 da Câmara dos Deputados ocorreu a portas fechadas. Com polícia evitando a entrada de civis, mesmo diante de decisão do que, em 22 de junho de 2015, garantiu o acesso de estudantes a recintos abertos ao público na Câmara de Deputados para acompanhar as votações referentes a PEC 171/1993 (essa decisão foi dada no HC 128883). A necessidade de um habeas corpus para adentrar aos recintos abertos ao público da Câmara de Deputados é por si só um sintoma da agonia democrática.
Não sendo suficiente isso, as portas vedadas, o uso interno de gás de pimenta (30/06/2015 e 07/04/2015 na Câmara dos Deputados, apenas nas discussões e votação da PEC 171/93), demonstra que este legislativo que aí se encontra é totalmente avesso ao debate, e que suas pautas encontram-se decididas por outras instâncias que não o povo.
Da nossa Constituição, dois dispositivos foram jurados de morte (um deles já havia recebido o mesmo golpe na votação da Reforma Política), Deixe-me explicar.
O artigo 60 da Constituição veda a proposta de emenda constitucional que tenda a abolir os direitos e garantias individuais, e também que a matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa. (Hoje vou tratar da segunda vítima, o tema da redução da maioridade penal merece uma análise própria e em outra oportunidade farei.)
Fazendo um parênteses, a Constituição utiliza a técnica da vedação de alteração de cláusulas constitucionais não só que suprimam direitos e garantias, mas também das que sinalizam que irão, ao longo do tempo, abolir direitos e garantias. Sabe por que? Justamente para garantir que o núcleo da Constituição, amplamente debatido e decidido, em uma Assembleia Constitucional (que foi formada exclusivamente para isso - escrever a Constituição) não seja objeto de ataque de maiorias instáveis (hoje bastante representativas de apenas 3 setores da sociedade). Segundo esse postulado, mesmo que estivéssemos passando por tempos de instabilidade (ditatura, golpe, estado de sítio, invasão inimiga), os direitos e garantias fundamentais (entre outros) não seriam atacados.
Com relação a segunda vedação, o esclarecimento é esse: a sessão legislativa é o período anual de reunião do Congresso Nacional, com início em 02 de fevereiro e recesso a partir de 17 de julho, com retorno em 01 de agosto, encerrando-se em 22 de dezembro.
A vedação de reapresentação de emendas constitucionais no mesmo período, ou seja, na mesma legislatura (um ano), também visa garantir que a apreciação das matérias que alteram o conteúdo da Constituição (as Emendas Constitucionais) seja feita de maneira não passional, não reapresentada em curto período (e acredito que ninguém antes haveria imaginado um curto período de menos de 24 horas) para evitar-se justamente toda sorte de manobras tendentes a realizar uma alteração neste texto que foi alcançado de forma democrática. Uma sessão legislativa alteraria o cenário e poderia fazer com que o texto fosse apreciado novamente em outra conjuntura, que os argumentos verdadeiros e não emotivos fossem averiguados, levando a uma melhor análise da necessidade de sua perenidade.
Não importa a nomenclatura utilizada – emenda de aglutinativa –, ou que esteja no Regimento Interno da Câmara. Toda legislação infraconstitucional deverá ser analisada a partir da Constituição, ela é o fundamento da República Federativa do Brasil. Por falta de espaço não poderei comentar a decisão da ministra Rosa Weber (MS 33630 DF, Reforma Política), mas vale a pena conferir.
Outrossim, vinte votos foram alterados em menos de 24 horas. Vinte deputados tiveram algum tipo de epifania, ou foram pagos, ou foram ameaçados. Sendo estas as únicas possibilidades, conseguimos entender porque uma proposta de Emenda Constitucional não pode ser votada duas vezes em uma mesma legislatura. Se foram pagos, trata-se de corrupção (e essa mudança não é válida), e se foram ameaçados, suas vontades estavam viciadas no momento (e essa mudança não é válida).
De qualquer forma, deputado que alterou voto porque foi ameaçado por Cunha não é digno de ser deputado. Todas as garantias que sua recebe, desde, inclusive, as imunidades, foram pensadas justamente para que não precisasse nunca mais se dobrar a um poder ditatorial (basta lembrar o contexto de aprovação da Constituição Federal). Todas as justificativas dadas são ataques à democracia.

Se recuperarmos a democracia, o que aconteceu com a Reforma Política e com a Redução da Maioridade Penal não se repetirá, e esses temas relevantíssimos receberão as discussões sérias que merecem.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

29 de Abril não será esquecido


       Hoje, dois meses após o massacre ocorrido na Alep em Curitiba, os Centros da Universidade Estadual de Londrina estarão com programação especial durante todo o dia. 
       Lembrar o dia 29 de abril é uma questão de resistência e refletir sobre o fato e seus desdobramentos a partir da visão de docentes, alunos e funcionários é a proposta da UEL.



Sem luta não há conquistas

sexta-feira, 26 de junho de 2015

ARTIGO: ALUNOS OCUPAM A REITORIA. E DAÍ?



Por
Lucinea Aparecida de Rezende
Professora do Departamento de Educação da UEL

"Alunos da Universidade Estadual de Londrina – UEL – ocupam a reitoria. Que ousadia! Quem são eles, afinal? Situando: são estudantes – moças e moços que procuraram uma universidade para receberem colaboração naquilo que precisam: formação.

Como professora da UEL em final de carreira, quero justificar a expressão que usei acima: “ousadia”. É preciso ser ousado/a nesse nosso país, em particular em nosso estado do Paraná, ora palco de tantas coisas não desejáveis pela maioria da população, para escapar da mesmice. Para escapar de coisas imorais e ilegais, como tem noticiado frequentemente a imprensa local, estadual e nacional.

Estamos ao final de junho de 2015. Até agora, um semestre sem aulas. O que isso representa para um estado, uma nação? Há coisa pior? Sim, pode haver. Pior do que isso é professores e alunos serem tratados com bombas de gás, com cães, com agressões que passam por acusações não sustentadas e exposições equivocadas. Pior do que isso é aluno ter que ocupar reitoria para evidenciar o estado em que se encontra a universidade, que deveria estar aparelhada para o ajudar em sua formação. Pior do que isso é não atentarmos para a gravidade do que vem ocorrendo.

Esses estudantes, que eu perguntei quem são, no mínimo são a minha esperança, hoje. Eles não se calaram, não se acorvadaram, não se venderam. Lutam o bom combate. A utopia, no melhor sentido da palavra, um sonho, pode voltar! Quando tudo falha, os jovens – jovens como esses, capazes de assumir seus sonhos − podem mostrar que tudo pode ser mudado.

Eles estão a dizer a todos: − prestem mais atenção em nós e na universidade! Estamos a pedir socorro! As coisas estão muito mal! Frente a isso, há que se atentar para esse alerta desesperado. Desesperado, sim. Já há um semestre sem aulas, ainda tendo que continuar a greve, porque não houve atendimento do essencial. Não houve atendimento à instituição universidade e nem aos professores e alunos.

Apelos não foram ouvidos. O grito ficou ainda mais ecoante! Pais, sociedade organizada, prefeito, pessoas que acreditam que o país pode mudar para melhor, não ignorem esses gritos todos, ainda que estejamos roucos, ainda que sejamos poucos. É vital o pedido de socorro! Que todos escutem e ajam: não dá para esperar mais."

quinta-feira, 18 de junho de 2015

ARTIGO: A IMPOTÊNCIA DO CIDADÃO

Por Vanerli Beloti
Professora do Curso de Medicina veterinária da Universidade Estadual de Londrina

Não há sensação mais cruel do que a que se sente ao ver coisas muito ruins acontecerem nas suas barbas sem ter como interferir de maneira eficaz. É o que sentem os cidadãos paranaenses nesse momento, sobretudo os professores e servidores públicos.

O estado está tomado por uma imensa quadrilha que loteou os serviços e instâncias entre várias gangs, a da receita estadual, a dos pedágios, das obras, dos transportes, da manutenção, e de uma infinidade de outros segmentos. Ainda a cooptação dos poderes legislativo e judiciário mediante gordos e descarados favorecimentos, fazem com que os cidadãos comuns não tenham a quem recorrer. Como é que uma greve na data base, sem atendimento de um direito mínimo e constitucional, que é a reposição da inflação, pode ser julgada ilegal?

A quadrilha elege, então, um representante m                               aior com cara de bom moço, com família de propaganda de margarina, mas que tem a única finalidade de proporcionar e garantir a qualquer custo a continuidade segura e impune dos desmandos, desvios e assaltos bilionários aos recursos do estado do Paraná.  Assim também são inúmeros deputados, assim são muitos juízes. Gente de plantão,  financiados pela quadrilha em suas campanhas, ou que recebem cargos privilegiados, com a única finalidade de viabilizar os desejos cada vez mais megalomaníacos das gangs.

Uma gente sem escrúpulos, que joga bomba em professores e come criancinhas literalmente, em redes de pedofilia.

Todas as facções receberam seus aumentos de salario. Governador 14,6%, Deputados, judiciário, tribunal de contas, todos muito acima da inflação, além de  auxílios imorais como o moradia.

Aos professores oferecem 3,45%! Nem a reposição da inflação que é garantida pela constituição, de 8,17%, eles querem cumprir. E ainda querem embolar os próximos 3 anos dos nossos reajustes. Porque não fizeram isso com os próprios salários? Nossa previdência foi assaltada em nome dessa reposição, e agora ela não virá! Ao invés disso somos humilhados, enganados, sufocados com bombas, panfletos mentirosos, multas milionárias, ameaças de descontos e de demissões. Até onde vai isso? Que poço é esse que parece não ter fundo?

Tomara mesmo que Deus exista e olhe por nós, porque nas instâncias humanas, não temos mais a quem recorrer.


Agenda de mobilização