domingo, 17 de maio de 2015

ARTIGO: O OCASO DE UM PLAYBOY DA POLÍTICA PARANENSE?


Por Ronaldo Gaspar
Professor de Ciência Política da Universidade Estadual de Londrina


     Uma das características mais notórias da política brasileira contemporânea é a sua crônica incapacidade de produzir novas lideranças. No campo dos “partidos da ordem” – que, constituído por uma miríade de agremiações, tem no PSDB e no PT polos aglutinadores de distintas bases eleitorais, frações das classes dominantes e projetos de administração estatal de vieses conflitantes –, as velhas raposas da política ainda perambulam livremente: trocam de cargos em funções executivas, legislativas e, também, judiciárias (vide os Tribunais de Contas dos estados); exercem influência em seus respectivos partidos ou, em muitos casos, para permanecerem em cena, mudam de partido. Quem não sabe que Lula, FHC, Sarney, Maluf, Serra, Collor, Martha Suplicy, Caiado e quejandos ainda estão por aí, no palco ou nas coxias, prestando seu (des)serviço à política brasileira?

Novas lideranças são raras e, quando surgem, despertam entusiasmo entre partidários, que, muitas vezes cansados das anacrônicas raposas, veem nos neófitos a possibilidade de renovação da base apoio político-eleitoral e, quiçá, de disputa dos mais altos cargos da política nacional com efetivas chances de vitória. Por extensão, a possibilidade de acesso a novos estratos de poder, status, prestígio, recursos e favores como contrapartida do empenho em manter aquilo que, sob os mantos de múltiplas cores – neoliberais ou neodesenvolvimentistas – do interesse público, os partidos da ordem despudoradamente se submetem: a lógica acumulatória e concorrencial do capital e sua pletora de iniquidades.

Nos últimos anos, as principais estrelas emergentes da escassa constelação pessedebista foram Aécio Neves e Beto Richa. Políticos da nova geração, Aécio e Richa fazem parte daqueles playboys que, como as celebridades do mundo televisivo, adoram, à meia idade, expor seus prazeres de juventude aos holofotes das colunas sociais: das pistas de corrida aos camarotes carnavalescos, lá estão eles com suas belas mulheres e ar jovial. Nisso, emulam o comportamento do mais importante representante dessa categoria, o “caçador de marajás” das Alagoas, que, na transição dos 80 para os 90, se elegeu presidente e transformou a farsa de sua candidatura em tragédia nacional. Nos playboys atuais, as mofadas ideias neoliberais desse desonroso antecessor sobrevivem sob o verniz da última moda. Nisso, Aécio e Richa são iguais. Outro aspecto também os assemelha: o contaste entre a imagem de bons moços, democratas, construídas pelas agências de propaganda, e seus posicionamentos reais, marcados pela destemperança e a truculência. Na campanha eleitoral, Aécio foi qualificado como misógino pelos movimentos feministas e, em MG, há inúmeras denúncias de perseguição a adversários políticos e ao cerceamento de investigações jornalísticas e policiais à sua administração e a correligionários. Richa, por sua vez, forçou um tratoraço na Assembleia Legislativa e promoveu um massacre aos servidores em 29 de abril. Uma diferença, porém, os separa no momento: derrotado na última eleição à presidência da república, Aécio, não tendo a máquina do executivo ao seu dispor, atenta contra os interesses populares nas votações no Senado e por meio do apoio aos movimentos conservadores das classes médias. Richa, vencedor de sua contenda eleitoral, subordina todos os poderes do estado paranaense, utilizando-se, a seu bel-prazer, do legislativo, do judiciário e da máquina de guerra do executivo para impor um violento ataque aos direitos previdenciários e trabalhistas dos servidores públicos.

Para muitos, Aécio aparece, cada vez mais, como uma figura demasiadamente instável e inconsistente para os planos pessedebistas de concorrência à presidência da república. Quanto a Richa, os acontecimentos dos últimos meses parecem ter dissolvido sua base de apoio eleitoral. Na Alep, tudo indica que ela se mantém pela política de favores – como foi publicizado pelo deputado Cobra – e pelo exemplo do tratamento dispensado aos adversários. Por conseguinte, de “menino de ouro” dos tucanos, ele se tornou um peso que o PSDB nacional dificilmente estará disposto a carregar nas próximas eleições. Qual sua saída? Pelo visto, o playboy desfigurado escolheu o caminho: aprofundar o arrocho aos servidores é o modo pelo qual ele pretende liberar recursos para apaziguar correligionários e construir obras. Com isso, tentará, ao modo da velha política bairrista e provinciana, recompor, por meio de pontes e viadutos, a visibilidade de seu mandato e, assim, dotar de algum colorido a sua acinzentada figura política. Esta é uma tarefa difícil. Porém, se o esquálido playboy terá ou não alguma chance de implementá-la depende, prioritariamente, da capacidade dos servidores públicos de resistir ao ataque aos seus direitos e, com eles, da população ao desmonte dos serviços públicos. Em suma, seus interesses político-eleitorais se opõem aos nossos e aos da população que necessita de serviços públicos gratuitos e de qualidade. Eis porque o fortalecimento da greve e a preservação do apoio popular são nossas tarefas primordiais e imediatas! 

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