Por Ronaldo Gaspar
Professor de Ciência Política da Universidade Estadual de Londrina
Uma
das características mais notórias da política brasileira contemporânea é a sua
crônica incapacidade de produzir novas lideranças. No campo dos “partidos da ordem”
– que, constituído por uma miríade de agremiações, tem no PSDB e no PT polos
aglutinadores de distintas bases eleitorais, frações das classes dominantes e projetos
de administração estatal de vieses conflitantes –, as velhas raposas da política
ainda perambulam livremente: trocam de cargos em funções executivas,
legislativas e, também, judiciárias (vide os Tribunais de Contas dos estados);
exercem influência em seus respectivos partidos ou, em muitos casos, para
permanecerem em cena, mudam de partido. Quem não sabe que Lula, FHC, Sarney, Maluf,
Serra, Collor, Martha Suplicy, Caiado e quejandos ainda estão por aí, no palco
ou nas coxias, prestando seu (des)serviço à política brasileira?
Novas lideranças são raras e, quando
surgem, despertam entusiasmo entre partidários, que, muitas vezes cansados das
anacrônicas raposas, veem nos neófitos a possibilidade de renovação da base
apoio político-eleitoral e, quiçá, de disputa dos mais altos cargos da política
nacional com efetivas chances de vitória. Por extensão, a possibilidade de acesso
a novos estratos de poder, status,
prestígio, recursos e favores como contrapartida do empenho em manter aquilo
que, sob os mantos de múltiplas cores – neoliberais ou neodesenvolvimentistas –
do interesse público, os partidos da ordem despudoradamente se submetem: a
lógica acumulatória e concorrencial do capital e sua pletora de iniquidades.
Nos
últimos anos, as principais estrelas emergentes da escassa constelação
pessedebista foram Aécio Neves e Beto Richa. Políticos da nova geração, Aécio e
Richa fazem parte daqueles playboys que, como as celebridades do mundo
televisivo, adoram, à meia idade, expor seus prazeres de juventude aos
holofotes das colunas sociais: das pistas de corrida aos camarotes
carnavalescos, lá estão eles com suas belas mulheres e ar jovial. Nisso, emulam
o comportamento do mais importante representante dessa categoria, o “caçador de
marajás” das Alagoas, que, na transição dos 80 para os 90, se elegeu presidente
e transformou a farsa de sua candidatura em tragédia nacional. Nos playboys
atuais, as mofadas ideias neoliberais desse desonroso antecessor sobrevivem sob
o verniz da última moda. Nisso, Aécio e Richa são iguais. Outro aspecto também os
assemelha: o contaste entre a imagem de bons moços, democratas, construídas
pelas agências de propaganda, e seus posicionamentos reais, marcados pela
destemperança e a truculência. Na campanha eleitoral, Aécio foi qualificado
como misógino pelos movimentos feministas e, em MG, há inúmeras denúncias de
perseguição a adversários políticos e ao cerceamento de investigações
jornalísticas e policiais à sua administração e a correligionários. Richa, por
sua vez, forçou um tratoraço na Assembleia Legislativa e promoveu um massacre
aos servidores em 29 de abril. Uma diferença, porém, os separa no momento:
derrotado na última eleição à presidência da república, Aécio, não tendo a
máquina do executivo ao seu dispor, atenta contra os interesses populares nas
votações no Senado e por meio do apoio aos movimentos conservadores das classes
médias. Richa, vencedor de sua contenda eleitoral, subordina todos os poderes
do estado paranaense, utilizando-se, a seu bel-prazer, do legislativo, do
judiciário e da máquina de guerra do executivo para impor um violento ataque
aos direitos previdenciários e trabalhistas dos servidores públicos.
Para
muitos, Aécio aparece, cada vez mais, como uma figura demasiadamente instável e
inconsistente para os planos pessedebistas de concorrência à presidência da
república. Quanto a Richa, os acontecimentos dos últimos meses parecem ter
dissolvido sua base de apoio eleitoral. Na Alep, tudo indica que ela se mantém
pela política de favores – como foi publicizado pelo deputado Cobra – e pelo
exemplo do tratamento dispensado aos adversários. Por conseguinte, de “menino
de ouro” dos tucanos, ele se tornou um peso que o PSDB nacional dificilmente
estará disposto a carregar nas próximas eleições. Qual sua saída? Pelo visto, o
playboy desfigurado escolheu o caminho: aprofundar o arrocho aos servidores é o
modo pelo qual ele pretende liberar recursos para apaziguar correligionários e
construir obras. Com isso, tentará, ao modo da velha política bairrista e
provinciana, recompor, por meio de pontes e viadutos, a visibilidade de seu
mandato e, assim, dotar de algum colorido a sua acinzentada figura política. Esta
é uma tarefa difícil. Porém, se o esquálido playboy terá ou não alguma chance
de implementá-la depende, prioritariamente, da capacidade dos servidores
públicos de resistir ao ataque aos seus direitos e, com eles, da população ao
desmonte dos serviços públicos. Em suma, seus interesses político-eleitorais se
opõem aos nossos e aos da população que necessita de serviços públicos
gratuitos e de qualidade. Eis porque o fortalecimento da greve e a preservação
do apoio popular são nossas tarefas primordiais e imediatas!
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